domingo, 22 de abril de 2012
Eu costumava ser
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10:49 PM
Eu fui uma criança extremamente feliz. Eu vivia do meu jeito, no meu mundo. Não me preocupava com metade das coisas que me preocupo hoje. Tinha minhas manias, e eram manias um tanto chatinhas. Eu era extremamente teimosa. Começou des de pequena, quando eu ainda tomava mamadeira. A única pessoa que podia preparar minha mamadeira era a minha mãe. Só! As vezes que meu pai foi preparar eu chorava e queria a mamadeira da minha mãe. Eu também não deixava outras pessoas a não ser minha tia mexerem no meu cabelo e gostava de usar a franja dividida no meio, mesmo as pessoas dizendo para mim usa-la de lado ou nem dividi-la. As meias precisavam estar milimetricamente encaixadas nos meus pés. Qualquer sinal de desconforto ja era motivo pra escolher um novo par de meias para colocar.
Quando um dente meu ficava mole, era uma novela. Não deixava meus pais tentarem puxá-lo ou sequer tocá-lo pois tinha medo que doesse e sangrasse demais.
Eu vivia na casa dos meus avós. Minha vó era minha melhor amiga, e ainda é. Naquela época nós nos divertiamos muito juntas. Ela me levava para passear no shopping toda semana. Comiamos pipoca, iamos no cinema e comprávamos ingredientes para fazer coisas gostosas. Bolos, pães, doces...
Brincávamos juntas. Era uma delícia quando sentávamos juntas para brincar de super mercado, de boneca ou até mesmo de chá da tarde.
Procurava por todos os cantos da casa papel e caneta para poder desenhar. Ficava horas e horas com meus desenhos e fantasias. Um dia, minha vó me deu um kit de canetas, tinta aquarela e lápis de cor. A partir daquele dia eu escrevia cartinhas para ela, fazia envelopes e colocava em cima de seu travesseiro.
Quando dormia lá, eu jantava olhando TV, sentada na poltrona do meu vô com uma bandeija apoiada nos braços da poltrona.
E os tempos e histórias com minha vó continuam.
Dizem que eu era uma criança inteligente. Aprendia tudo com facilidade e rapidez. Ganhava de todo mundo no Xadrez e Jogo da Velha além de ter habilidade para trabalhos manuais. Eu não me importava com isso. Só ia lá e fazia como me mandavam fazer.
Fui a primeira da turma a aprender a ler e escrever. Com quase cinco anos, se não me engano. Na minha primeira aula de patinação artistica pulei um nível, o que foi bem legal, pois era a primeira vez que tinham rodas nos meus pés. Não lembro muito bem, mas fui separada das outras crianças e me colocaram num grupo de crianças maiores. Eu era a menor do grupo.
Eu era meio metida... Falava umas coisas meio nada a ver no meio dos adultos, como toda criança faz.
Não era de chorar por qualquer coisa. Deus o livre se me deixasse braba. Não era comum e eu não gritava nem nada, só ficava muito irritada e me trancava no meu quarto.
Eu ja era desajeitada desde criança. Dá pra citar umas quantas vezes que me acidentei feio. Ja parei no hospital umas duas vezes quando era criança, e eu nem era muito bagunceira nem agitada. Talvez falta de sorte.
Uma vez, caí de uma escada e bati de cabeça no chão. Fiquei inconsciente por umas 4 horas e acordei no hospital com uma luz forte na minha cara. Jurei que tinha morrido e que estava no céu.
Teve outra vez que eu estava correndo em círculos na sala da minha casa, escorreguei e bati de dente numa mesa. Prefiro não dizer o que aconteceu e deixar vocês descobrirem, mas eu tive que levar pontos na boca.
E também teve a vez que caiu uma televisão de 10 quilos em mim... Consegui segurar um pouco, mas doeu.
A lista continua...
Fui criada na praia. No mar, na água, na areia, no sol, no chinelo de dedo, no protetor solar, na casa que ficava no meio do mato e no apartamento com brisa do mar.
Quem acha que criança não filosofa sobre a vida ta muito enganado. Bem... Pelo menos eu filosofava. Por exemplo, eu tinha uma teoria bem fantasiosa de que minha mãe sabia ler meus pensamentos e sabia de tudo o que eu pensava e fazia. Eu pensava que ela só não falava comigo sobre as coisas que eu pensava porque eu pedia pra ela, em pensamento, pra ela não vir falar comigo sobre isso. Claro que eu sabia que não era verdade, mas é legal. Sei la, acho que ainda acredito nisso.
Eu também pensava que a nossa vida era um filme, e que quando a gente morresse iamos para um lugar cheio de pessoas e juntas todas assistiriamos o filme da vida de cada um.
Eu podia ficar falando das minhas criancisses por mais algumas horas mas acho que ta bom assim. E como conclusão eu vou falar o seguinte: eu mudei muito. Olho para a Eu do passado e vejo outra pessoa. Não é realmente eu. Claro que sou eu, mas não parece. Os sorrisos, os momentos, os olhares, poses, lugares. Experiências de vida. Tudo isso foi feliz. Eu era feliz. Uma criança que vivia num mundo perfeito. É... A gente cresce e vê que esse mundo perfeito só existe nas histórias que meu pai me contava antes de dormir.
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